Renovar a fé num percurso místico é o clímax para um cristão católico, que mantém no conservadorismo de sua crença a plenitude reta, nutrindo felicidade em revelações espirituais e redescobrimentos pessoais, em redenção única à busca de uma conquista superior.
Nesse escopo, os 110 quilômetros peregrinados de Sarria à Catedral de Santiago, o filho de Zebedeu, o mais jovem dos 12 apóstolos, produziu efeito antológico e supremo de vicissitudes, como um anacoreta moderno, que permite reduzir, em sublimes sentimentos, o momento íntimo de encontro na paz do Criador.
Os diversos caminhos que levam a Santiago de Compostela, na esplendorosa Galícia, revelam belezas exuberantes, a maioria delas caprichada pelo profundo desejo de perseverar nos elevados propósitos do percurso. Amizades feitas, confraternizações celebradas e ritos que misturam o sabor das refeições a cantis de água, recorridos incessantemente. Há algo maior naquele lugar.
A caminhada faz cansaço físico, fadigas musculares e bolhas nos pés, num contraste entre o espiritual e o humano, mas há uma leveza naquela atmosfera, nos libertando continuamente do peso corpóreo, da irracionalidade, da selvageria mundana, dos abismos sociais. É como se tivéssemos adentrado numa outra dimensão, um mundo paralelo, sem estresses ou aflições.
Ao final, deparamo-nos com o pórtico da glória, na entrada da Catedral, encerramento paradoxalmente alegre e triste da jornada que, para muitos, chega a durar meses. A minha decorreu em dez dias. E então o majestoso ‘botafumeiro’ assoma em todos os ângulos, apoteose de graça e gratidão.
Cumprir esse propósito não é tarefa fácil. Mas a sensação de vencê-la é única, e fascina. Obriga-nos a repensar posturas, enredos, decisões. Remete-nos a um novo tempo, que dilata sonhos e vontades, agrupando, em diferentes sentidos, a simplicidade e a grandeza da palavra compaixão. Aprender no amor, caindo, mas levantando sempre. E é assim que a vida segue pelos séculos e séculos. Valeu a pena!
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