6 de fevereiro de 2015

Democracia áspera


A escolha dos cargos para a Mesa Diretora do Senado gerou tensão em Brasília, na noite de quarta-feira (4). Com discussão áspera e agressiva, o presidente da Casa, Renan Calheiros (PMDB-AL) e Aécio Neves (PSDB-MG) trocaram insultos após o mineiro criticar suposta manobra do alagoano para excluir os tucanos dos trabalhos da Mesa. Renan não contou com apoio do PSDB em sua reeleição.

O jogo de palavras aplicado na política nem sempre é feito de forma mansa. Em toda a democracia é normal acontecer excessos e entonações casuais, durante o embate de defesa de determinada propositura ou postura partidária. Quem não milita no ambiente político ou frequenta as câmaras acaba estranhando tal posicionamento. Tudo compõe o mise-en-scéne do debate.

Diferentemente da pantomima, o bate-boca em plenário traz algumas peculiaridades. Na maioria das vezes, o discurso acalorado é afastado de ira, rancor, ódio. A troca de palavras ríspidas acontece naturalmente, em fase progressiva na defesa de uma ideia ou alocução. Os gestos, nesse caso, ficam subliminares, destacando-se pelo dedo em riste ou o sinal de espanto.

Bate-bocas ficaram famosos na televisão brasileira. Em 1987, um clássico deles pode ser relembrado entre o finado governador do Rio de Janeiro, Leonel Brizola, e um jornalista do Estadão. Orestes Quércia, ex-governador de São Paulo, também escandalizou a Cultura quando trocou insultos, em 1994, com o também jornalista do Estadão, Rui Xavier. “Tapa de lá, insulto de cá”, diria o trocadilho casual nos bastidores do poder.

Até no Supremo Tribunal Federal (STF) há discussões. Em abril de 2009, Joaquim Barbosa e Gilmar Mendes, presidente da Casa na época, se atracaram. Barbosa se irritou quando Mendes disse que ele não tinha condições de dar lição a ninguém e retrucou dizendo que o colega "não estava falando com os seus capangas do Mato Grosso".

Assim, vemos que casos semelhantes se somam pelo país. Em Sorocaba, eu mesmo discuti em plenário com diversos colegas, sempre a bem do serviço público e em defesa dos direitos dos munícipes. Dessa forma, ganha-se a liberdade de expressão, o pleno exercício da cidadania e, acima de tudo, a democracia.

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