8 de novembro de 2013

QAP, Brasil


A corrupção no Brasil ultrapassa dimensões mensuráveis e estarrece a população cada vez mais. Parece até que aquele que não compartilha de tal prática é taxado de covarde, medroso ou prostrado.

Ruy Barbosa, célebre polímata, definiu o modelo brasileiro de agir em linhas íngremes, com o seguinte pensamento: “De tanto ver triunfar as nulidades, de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça, de tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar da virtude, a rir-se da honra, a ter vergonha de ser honesto”.

Essas palavras estão mais explícitas do que nunca nos dias de hoje. Somos patriotas encarcerados, pois dividimos calçadas com corruptos e corruptores de todas as áreas da sociedade. São políticos, médicos, advogados, policiais, jornalistas, fiscais e até celebridades. Todos parecem gostar de tirar uma casquinha do próximo, sem temer as consequências da lei.

Passar a perna no outro deixou de ser imoral, venal, ilícito. Tudo converge à legalidade dentro de um Estado que perdeu sua força, autoridade e se deixou levar pelas manchas tórridas da impotência. Ser honesto, atualmente, parece aberração.

A mácula causada pela desonra, injustiça e pessoas más soma-se à impunidade e às garantias (in)constitucionais de libertinagem. Tudo é permitido numa rede organizada pela falência de educação, do atendimento público à saúde, de precariedade da segurança e de abuso infinito e habitual do poder.

O desânimo da virtude, latente e inerente ao homem desprezado pela sociedade acostumada a praticar o mal, leva o cidadão de bem a repensar valores, seu modo de agir e a questionar o básico do básico: devemos, nós, continuar a ter vergonha na cara diante de tanta roubalheira?

A hipocrisia carregada de eufemismos esconde um modelo perverso de política no país. É o que o francês Alexis de Tocqueville, na década de 1840, soprava ao moderar que havia uma noção de que as pessoas não poderiam se esconder atrás de uma multidão para promover interesses escusos.

Nenhum comentário: