3 de dezembro de 2013

Lamentável mundo real


Há muitos anos li "Admirável Mundo Novo", do inglês Aldous Huxley. Nos últimos dias, ao ler novas notícias, lembrei-me dele, e percebi que a obra está se aproximando da realidade, mesmo tendo sido escrita em 1932. Creio mais: que a sociedade "moderna" não conseguirá fugir dela. Mas é um futuro triste.

No livro, os valores morais vão sendo deixados de lado. A família - no sentido de amor, unidade e convivência - vai desaparecendo. Os filhos não são mais educados (nem mesmo produzidos) pela família e sim pelo Estado. A educação que o Estado vai dando aos estudantes é no sentido de formatá-los a padrões sociais de conveniência.

As drogas vão sendo eliminadas, mas o Estado distribuirá uma droga "oficial" para ser usada por todos, quando se sentirem deprimidos. Desaparecerão todos os conflitos sociais e a "luta de classes", pois todos estarão, desde o nascimento, perfeitamente integrados à sua realidade (castas estanques).

Lamentar isso e afirmar que - se discordamos dessa tendência - temos que nos mobilizar já para evitar que se consolide é algo pouco tangível. É a liquidez do mundo, definida pelo sociólogo polonês Zygmunt Bauman, quando aponta que “tudo está agora sendo permanentemente desmontado, sem perspectiva de alguma permanência”.

Estancar a realidade “líquida”, outrora “admirável”, é aceitar caminhos nebulosos, decorrentes de uma falência sociopolítica responsável pela desestabilização de lares, transformando em insuperáveis certas convivências, que se estendem a amigos, colegas de trabalho, vizinhos...

Tal falência se multiplica quando lidamos com problemas comportamentais, pensamentos distintos e a forma de encará-los. Não há imediatismo que rechace, hipoteticamente, o viés impositivo da sociedade frustrada, desamparada “afetivamente” de ilusões promissoras, avessa à modernidade e intimidada pela globalização. Terminantemente, lamentável mundo real.

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